Entre sensações e devoções..




Acordou já era de madrugada, a tv repetia exaustivamente o som do menu de inicio do show que acabara de assistir, os acordes e solos de guitarra o faziam arrepiar, o cheiro que emanava do cinzeiro repleto de bitucas inebriava aquele cômodo pequeno..

Levantou-se e foi até a sacada, observou do 23º andar a vista que ali lhe era proporcionado, luzes até onde a vista alcançava, cachorros latiam alto, sirenes ecoavam pela madrugada e o vento lhe tocava no rosto dando uma sensação de alivio e frescor..

A cada rajada de vento uma nova suspirada, a cada suspirada uma velha lembrança lhe assombrava os pensamentos e a altura lhe fazia querer pular..

Decidiu tomar mais uma dose do seu velho e bom uísque, companheiro de todas as horas e acender mais um cigarro, a brasa queimava assim como seu coração ardia em chamas de desejo, paixão e vontade...

Tragava e expelia a fumaça pelo ar, deixando que a brisa levasse embora tudo aquilo, as preocupações, mágoas, rancores e ódio, juntamente com os arrependimentos que a vida lhe trouxe ao longo dos anos..

Decidiu então colocar o dvd pra tocar mais uma vez, começou a escutar os acordes juntamente com a orquestra, ergueu o som e passou a imaginar centenas de cenários imagináveis e possíveis, longe dali ,longe daquela realidade, daquela violência, daquele ódio e rancor, daquela pressão que o fazia ir trabalhar todo dia com uma arma apontada pra sua cabeça sem saber se no fim daquele exaustivo dia ainda teria seu emprego de volta..

Puxou do fundo da gaveta um álbum de fotografias, daquelas que foram reveladas há alguns anos atrás, a cada página que passava lhe era revelado um passado que talvez seria melhor esquecer, apagar da memória, fingir que jamais tinha passado por aquilo, mas não era possível, infelizmente não era, por mais que tentasse seu subconsciente havia tatuado no fundo do peito aquelas cenas e só lhe restava o arrependimento...ou as lembranças..

Olhou novamente para a sacada, viu a brisa que soprava entre as folhas do coqueiro, correu em sua direção e  saltou, saltou buscando voar, saltou tentando achar um sentido pra aquilo, um mix de emoções, um mix de amores e arrependimentos, um mix de querer e não poder, um mix entre vontades e obrigações..

Naquele momento, ali, ele podia ser livre, podia voar, podia ver tudo passando em alta velocidade, as janelas acessas nos prédios ao lado passavam rapidamente pelo campo de sua visão e nesse exato momento um grito ecoou do fundo de sua garganta, um grito de liberdade, um grito como se fosse um prisioneiro que agora podia ser livre e se sentir sem suas correntes, um grito profundo e sincero...sentia cada vez mais próximo ao chão e podia escutar o espanto das pessoas, nesse momento entre gritos assustados e desesperados pode escutar um som familiar, um som irritante e alto, um som conhecido e desprezado por ele, era o som de seu despertador...Simplesmente despertou, acordou em sua cama imensa... imensa e vazia, buscou lhe a companhia ao alcance do braço e não encontrou nada a não ser a solidão, decidiu então levantar para mais um dia que o esperava...


=======================================

Anderson T Mendes, 15/03/2016 - Camboriú,SC

Fonte imagem: http://taniagorodniuk.blogspot.com.br/2012/04/resolvi-subir-ao-ceu.html

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sobre piratas e amarras...

Ctrl + C, Ctrl + V ... Dogs - Pink Floyd

O salto eterno...